Não fosse a notícia publicada em diversos jornais,  periódicos acadêmicos e em matéria em tudo quanto é site, pouca gente  acreditaria ser verdade. Como assim, um gato que prevê a morte de  pessoas num hospital?  Sim, é o que Oscar, um dos seis gatos terapêuticos  do Hospital Steere House, em Rhode Island, EUA, faz. No dia a dia, ele  nem é tão amigável com os velhinhos internados na ala de demência  terminal da instituição, que trata pacientes com estado avançado de  Alzheimer e Parkinson.
Mas quando, sabe-se lá como, percebe que o estado de um dos pacientes se agrava, seu comportamento muda radicalmente. Acometido de um ataque súbito de carinho e solidariedade, ele invade o quarto do doente sem ser chamado, sobe na cama e se enrosca perto do enfermo. E fica ali, ronronando suavemente, até que seu eleito não esteja mais no mundo dos vivos.
Mas quando, sabe-se lá como, percebe que o estado de um dos pacientes se agrava, seu comportamento muda radicalmente. Acometido de um ataque súbito de carinho e solidariedade, ele invade o quarto do doente sem ser chamado, sobe na cama e se enrosca perto do enfermo. E fica ali, ronronando suavemente, até que seu eleito não esteja mais no mundo dos vivos.
Gratidão Todo o processo dura uma média de 4 horas. O detalhe é  que a intuição de Oscar nunca falhou: as 25 visitas que fez resultaram  em 25 mortes. O número certo seria 26, se o peludo não tivesse que optar  entre dois pacientes que morreram ao mesmo tempo.
A confiança  depositada em Oscar pela equipe médica é tão profunda que, quando o gato  entra no modo vigília, a família do doente é logo alertada. “As pessoas  confortam-se com a ideia de que o animal esteja lá quando os seus entes  queridos morrerem. E a gratidão aumenta quando Oscar esteve lá enquanto  eles não puderam estar”, afirma o geriatra David Dosa, que acaba de  lançar o livro O Incrível Dom de Oscar (Ediouro/R$ 30/224 páginas).
Na  obra, acima de tudo humanista, ele conta a história sensacional da  relação desse gato malhado com os pacientes do hospital e a equipe  médica. Além de livro, os dons de Oscar vão parar no cinema em breve, em  filme escrito por Stephen P. Lindsey (Sempre ao Seu Lado).
Aprendizagem
Não  espere uma história fofa na obra do geriatra. Não há aquele tom festivo  para quem gosta de bichanos, nem tampouco elucubrações paranormais a  respeito dos dons do gatinho de 5 anos de idade.
“Certa vez, a  escritora Colette disse que ‘não existem gatos comuns’. Admito que não  acreditei nisso logo que Oscar apareceu. Mas, esse gato preto e branco,  aparentemente comum, tem me ensinado muito”, diz o autor.
O  médico narra seu processo de aprendizagem e de fé no ser humano sem  apelar para o sensacionalismo.  Se pauta, isso sim, no tom  obrigatoriamente carinhoso de quem lida com aqueles que já estão no  ocaso da vida - e, pior do que isso, perdendo sua independência física e  mental.
Mesmo fazendo isso há anos, Dosa deixa transparecer a  tristeza de anunciar o inevitável às famílias. Também  revela o tamanho  da gratidão que tem a Oscar por fazer o que ele não consegue. E  justamente por isso emociona o leitor. 
“Com o tempo, comecei a  pensar em Oscar como um  doce guia capaz de levar as pessoas de um  estado mental assustador a outro, mais reconfortante”, declara o médico.  Ele conta que, diante de Oscar, foi obrigado a aceitar os fatos,  independente das explicações ou a falta delas.
Por isso, mesmo  tendo testemunhado o impossível nesses últimos cinco anos e conversado  sobre isso com os membros mais receptivos das famílias que perderam seus  entes queridos, David Dosa ainda não tem uma justificativa plausível  para o que ocorre nos quartos do Steere House.
Mistério  “Não finjo entender, mas acredito que podemos aprender com o exemplo de  Oscar, porque testemunhar esse fenômeno pode ser uma experiência muito  espiritual”, diz.
Seu lado cientista, porém, não nega que estudou sobre um odor que os  humanos exalam por causa das cetonas que formam quando as células  morrem. Talvez seja esse o dom de  Oscar:  farejar os índices altos de  algum composto químico liberado pouco antes da morte.
“Pode ser.  Mas gosto de pensar que Oscar é mais do que um sistema de detecção de  cetonas. Num lugar onde a equipe de funcionários não mede esforços para  tornar a experiência da morte tolerável, gosto de acreditar que Oscar  seja a manifestação corpórea desse companheirismo”, diz o médico.
Conhecendo  mais a fundo a história do felino e de como sua presença interfere na  rotina do hospital que lhe abriga desde filhote, surge a necessidade de  redimensionar a vida. E de  perceber que o conforto  surge do  improvável. Foi, pelo menos, o que o geriatra foi obrigado a fazer.
“Como  médico, meu papel é prescrever o remédio adequado e orientar a família.  É função das enfermeiras oferecer os cuidados apropriados. E o trabalho  de Oscar é servir de companhia nas horas finais. Ele é, evidentemente,  parte da equipe e um conforto tanto para as famílias quanto para os  pacientes, mesmo que, em muitos casos, seja a única família que restou  ao paciente”, arremata. 
Fonte: Correio


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