Neko

quarta-feira, 28 de março de 2012

Millor Fernandes - RIP

Uma gentil e maníaca senhora tinha Um gato siamês. Era um bichinho de raça, criado como se fosse gente. Gato bonito, amigo, parecia um deus. Só faltava falar. Muito triste, a senhora passava duas horas por dia tentando ensinar o gatinho a falar. Repetia letras, sílabas, palavras. Tinha esperança que a qualquer hora aquele olhar inteligente se manifestaria.
Morava na mesma casa um outro animalzinho. Inferior ao gato, preso no poleiro de ferro, a pobre ave conversava. Até mais do que devia. Um papagaio que falava pelos poros! Se é que os tinha. Curiosa a natureza, pensava a mulher. Um gato quase humano, sem fala. E um papagaio cretino, a conversar. Foi então que teve a brilhante idéia. Matou o papagaio, depenou-o e o cozinhou. Pensou. Se o gato comer a carne do papagaio, ele, certamente, falará.
Só que o gato não quis comer o amigo. Até apanhar o gatinho apanhou. Não conseguia imaginar o companheiro cozido, na panela. Mais tarde, vencido pela fome, o gato engoliu todo o papagaio da panela.
Imediatamente, sua dona pulou de alegria! Enfim, o gato falaria! O gato, sentindo-se mal, começou a gritar, dizendo que fugisse pois, o prédio estava prestes a cair.
Ela, rindo e chorando por causa do milagre, nem ouviu o que dizia. O gato insistia. Pulou para a rua, insistindo. Sua dona deveria sair do prédio. Bem rápido.
Mas não deu tempo de mais nada. Um estrondo, e o prédio caiu, desmoronou-se. Sua dona ficou no meio dos escombros. Talvez estivesse ainda com um sorriso nos lábios. Afinal, seu gatinho falara! O bichano, assustado, comentou melancolicamente com um gato mais pobre do terreno ao lado. Sua dona preocupou-se tanto com a sua fala! E no momento que falou, ela não prestou atenção! E o artista não acredita mesmo na sua criação!


terça-feira, 27 de março de 2012

Humpf!


A fala do gato - Ferreira Gullar


O gato siamês
tem uns vinte miados:
alguns são suaves,
outros exaltados;
há os miados graves
e há os engasgados.
É quase um idioma
que ainda não entendo
mas o gato bem sabe
o que está dizendo.

E até falou comigo
em linguagem de gente.
Disse: “meu amigo”,
assim de repente.

Então eu acordei
feliz e contente!
Era sonho, claro.
Mas, como se sabe,
é no sonho que ocorre
o que se deseja
e no mundo não cabe.



Irene Niepel


Fuss


Catwoman

sábado, 24 de março de 2012

=^..^=


Ode ao Gato - José Jorge Letria


Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,
a matéria compulsiva dos sentidos.
Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silêncio branco da cinza, 
pois nós temos fôlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formarmos o salto
que leva à glória ou à morte,
conforme a harmonia dos astros
e a regra elementar do destino.

José Jorge Letria (1951-), Ode ao Gato 
in "Animália Odes aos Bichos"

ZZZ


Design - Código de Barras



Longa Metragem - The Shadow of the Cat - 1961

terça-feira, 20 de março de 2012

Perspectivas

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Pelo Mundo

Xigaze, Tibet, China

O Gato ( As Flores do mal ) - Baudelaire

I
Dentro em meu cérebro vai e vem
Como se a sua casa fosse
Um belo gato, forte e doce.
Quando ele mia, mal a quem

Lhe ouça o fugaz timbre discreto;
Seja serena ou iracunda,
Soa-lhe a voz rica e profunda.
Eis seu encanto mais secreto.

Essa voz que se infiltra e afina
Em meu recesso mais umbroso
Me enche qual verso numeroso
E como um filtro me ilumina.

Os piores males ele embala
E os êxtases todos oferta;
Para enunciar a frase certa,
Não é com palavras que fala.

Não, não existe arco que morda
Meu coração, nobre instrumento,
Ou faça com tal sentimento
Vibrar-lhe a mais sensível corda

Que a tua voz, ó misterioso
Gato de místico veludo,
Em que, como um anjo, tudo
É tão sutil quanto gracioso!

II
De seu pêlo louro e tostado
Um perfume tão doce flui
Que uma noite, ao mima-lo, fui
Por seu aroma embalsamado.

É a alma familiar da morada;
Ele julga, inspira, demarca
Tudo o que seu império abarca;
Será um deus, será uma fada?

Se neste gato que me é caro,
Como por ímãs atraídos,
Os olhos ponho comovidos
E ali comigo me deparo,

Vejo aturdido a luz que lhe arde
Nas pálidas pupilas ralas,
Claros faróis, vivas opalas,
Que me contemplam sem alarde.

Swarovski Crystal Cats

segunda-feira, 19 de março de 2012

O primeiro Gato com nome

                                      Nadjem

 Acredita-se que o gato doméstico tenha evoluído do gato selvagem africano, uma criatura malhada chamada Felis silvestris libyca, das margens do rio Nilo.Os primeiros fazendeiros, desesperados por proteger seus estoques de grãos arduamente conseguidos, ficavam, sem dúvida, muito satisfeitos quando esses pequenos e ágeis predadores fixavam residência perto de seus celeiros em busca de presas fáceis. Na verdade eles ficavam tão felizes que talvez se dessem ao trabalho de atraí-los e garantir seu conforto.

Não demorou muito para que esses caçadores selvagens se tornassem completamente domesticados, insinuando-se não só nas casas egípcias como também em sua cultura. A deusa gata Bast tornou-se uma figura de culto popular, assim como outra divindade felina mais sinistra chamada Sekhmet. Os felinos eram, em geral, considerados mensageiros divinos, e matar um deles era tabu. Aqueles que o faziam, mesmo que por acidente, eram quase sempre linchados por uma multidão furiosa. Os gatos domésticos eram mimados, usavam brincos nas orelhas e no nariz, colares caros, e quando morriam eram frequentemente mumificados e tinham generosos funerais. Centenas de milhares de múmias de gatos tem sido descobertas por todo o Egito.
Ainda assim, apesar de sua figura adornar tudo, de paredes de palácios a pergaminhos e jóias, muito pouco foi escrito ou dito sobre os gatos individualmente. Acredita-se que a maioria nem sequer tinha nome. Eram todos mencionados como muau, que literalmente significa "aquele que mia".

É isso que torna um gato em particular, que viveu durante o reinado do faraó Thutmose III (1479 - 1425 a.c.), tão especial. O felino em questão era chamado Nadjem ( que significa "querido" ou, ainda, "estrela"). Nadjem foi mencionado na parede da tumba de um funcionário de baixo escalão, chamado Puimre, sepultado fora dos limites da antiga cidade de Tebas.

Há muito pouco a dizer sobre Nadjem além do fato de que Puimre deve tê-lo (ou tê-la) amado bastante. É uma pena que ele nunca venha a saber o enorme privilégio que concedeu a seu animal de estimação. Ao escolher preservar o nome de seu gato para a posteridade, fez dele (ou dela) o primeiro felino na história registrada que podemos chamar pelo nome.

Trecho do livro "100 Gatos que mudaram a civilização", Sam Stall, Editora Prumo.


Budapest Ancient Egyptian cat. The cat was a sacred animal of the goddess Bastet. Saïte Period. Szépmüvészeti Múzeum (Museum of Fine Arts), Budapest.




Decoração


Poster