Neko

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Um Gato - Danuza Leão

De uns 30 dias para cá, entrei num novo universo: o dos adoradores de gatos.


Foi assim: resolvi ter um e procurei saber com um amigo quando haveria uma feira para comprar um lindo filhote etc. e tal. Ele foi logo me dizendo que nada disso, que o melhor gato é o vira-lata, e me deu o telefone de outro amigo, que me deu o telefone de outro amigo, e assim sucessivamente; aí conheci (só por telefone) um grupo de pessoas simpáticas e prestativas, sempre prontas a ajudar com um conselho, uma informação, uma explicação psicológica sobre o comportamento dos gatos, e com as quais me comunico com frequência.



Aprendi que gatos não se compram, se adotam, e são os membros dessa confraria informal que fazem a intermediação entre quem está querendo um e quem está com uma ninhada em casa. E tem mais: como existem lugares na cidade onde os sem nenhum coração abandonam os filhotes, eles costumam ir a esses lugares para recolhê-los e encaminhar para a adoção. A pessoa que me confiou o meu tem 36 em seu apartamento.



Antes de Haroldo -é o nome dele- chegar, fui a uma loja especializada comprar um pequeno enxoval, digamos assim, para recebê-lo. Cheguei em casa com um tipo de banheirinho, areia, caminha, ração para filhote, patê em lata, vasilhas para comida e bebida e brinquedinhos. Embatuquei quando o vendedor me perguntou de que sabor queria a ração: de peru, de galinha, de peixe? Nacional ou importada? E como escolher, sem conhecer seu paladar?



Quando Haroldo chegou, minha vida mudou. Ele não me larga um só minuto, e tirando a hora em que se instala no teclado do computador ou se coloca exatamente entre meus olhos e o jornal ou a televisão, é uma delícia que nem dá para contar. Tão grande que nos primeiros dias eu não conseguia sair de casa para não deixá-lo sozinho. Resultado: agora tenho também uma gatinha (ainda sem nome) no pedaço, para que ele não se sinta muito só na minha ausência. E o pior: estou ficando gagá, e quando saio fico querendo voltar logo para casa, tantas as saudades.



Eles retribuem e me amam de paixão, uma paixão total e incondicional. Os dois são pequenos, me seguem pela casa onde eu for, se enrolam no meu pescoço para dormir -ainda bem que não estamos no verão-, e quando o veterinário disse que seria aconselhável a castração e a esterilização, quase chorei, e telefonei para meus novos amigos para ter uma orientação sobre o assunto.


Sabe o que me disseram, todos? Que é preciso castrar e esterilizar, sim. Mas por que, perguntei, vocês que gostam tanto de gatos, não têm pena?


Exatamente por isso, foi a resposta. Se não for feito um tipo de planejamento familiar, os gatinhos que nascerem serão abandonados nos parques da cidade e vão morrer de frio e de fome. É por amor, por muito amor -e consciência- que é preferível que nasçam menos gatos, já que não existem lares suficientes para adotá-los.



Foi impossível não fazer um paralelo com a infinidade de crianças abandonadas nos sinais de trânsito e nas Febens da vida, sem ter quem cuide delas e a cada ano nascendo mais e mais, algumas de mães de 13, 15 anos, sobretudo no Nordeste, terra do presidente Lula, que conhece o problema melhor do que qualquer um de nós.



Conhece, mas não fala no assunto; nem ele nem uma só pessoa do governo. Por que será?


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