Quando
o vi pela primeira vez, numa casa semi abandonada na zona oeste da cidade, disse
pra mim mesma – é ele!
Irrequieto, assustado,
morrendo de medo.
Era o gato mais bonito
que eu já tinha visto. Um tico. Tão pequenininho que cabia na palma da mão.
Veio comigo até o carro grudado nas minhas costas. Com as pequenas unhinhas
firmes pra não cair.
No carro, dentro de uma
caixa de papelão, me olhava assustado. Eu dirigia – um olho na
rua e outro no gato.
De repente, não sei
como, o pirralho pula da caixinha e num piscar de olhos e entra – não se sabe
como – atrás do porta-luvas.
Não consegui
acreditar...e, catastrófica, já vi a
cena – ele entrando, entrando pelas entranhas do motor....mama mia!
Parei imediatamente
- era uma tarde de Domingo, cidade meio vazia, dia do aniversário de São
Paulo – 25 de janeiro de 1999. E tenta daqui, tenta dali, nada de conseguir
tirar o gato do pequeno espaço onde havia se enfiado. Quanto mais eu tentava,
mais ele miava...
Paciência, pensei.
Estando perto de casa, em alguns minutos eu o tiraria dali. Era certo também,
que não daria tempo de acontecer a catástrofe que eu imaginava com o bichano
no motor.
Foi na
garagem do prédio a
verdadeira luta. Quem disse que se conseguia tirá-lo de onde havia se metido?
Com medo de machucá-lo, tentava devagar...
Quando conseguia pegar
uma patinha ele, rapidamente, puxava e berrava. Ai meu Deus do céu! Como iria
tirar o Grafite dali. Ah, esqueci de dizer que, na hora que eu o encontrei já
dei o nome – Grafite por causa da sua cor. Ele, apesar de SRD, sem raça
definida, é todo cinza. Lindíssimo e, quando pequeno tinha os olhos azuis, cor
que se mantém um pouco hoje dividindo a beleza com um verde clarinho. .
Aos poucos, a luta na
garagem foi me cansando e o que é melhor – cansou a ele também que, num
momento de descuido me deixou pegá-lo.
E só teve um jeito,
puxa-lo mesmo morrendo de pena e ele miando pra dedéu.
Por esse cartão de
visita já dava para perceber a ferinha que estava trazendo pra casa.
E foi só entrar no
apartamento pro Grafite sair se escondendo e miando.
Claro, eu logo fui
preparar um leitinho pra ele. Esqueci de dizer que, no caminho, havia parado
numa farmácia e comprado aquela mamadeirinha pequenina para dar chá aos bebês;
Desse artefato, o Fite
nem se deu conta. Começou a lamber o leite e, aos poucos, foi ficando com a
barriguinha mais gordinha desse mundo.
Arrumei a caminha, um
cestinho de vime, coloquei uns paninhos como colchãozinho e, lógico, a bendita
bandeja de areia.
Que dificuldade nos
primeiros dias. Fazer o novo hóspede entender onde era o banheiro dele.
No começo, a grande onda
do Fite era fazer seu cocôzinho atrás da estante.
Eu vivia com pano molhado
com sabão e pinho sol atrás dele.
Chegou até a fazer suas
necessidades ao lado da minha cama. Mas nesse dia tava perdoado! Uma diarréia o
impediu de chegar a qualquer lugar, quanto mais na bandeja...
Enfim, tanto foi feito
que, finalmente, aleluia! Ele descobriu seu lugar de despejos sanitários. E não
desaprendeu mais.
Gatinho maroto!
Hoje o Fite tem um ano e
um mês. É um belo gato cinza, marrudo, metido a bravo! Gosta muito de correr
atrás de mim pelo apartamento e atacar as pessoas que visitam a casa.
Não tem um “Cristo”
que chegue aqui que não experimente suas patadinhas.
Os mais corajosos já
descobriram que essa é uma forma de apresentação dele. Se a pessoa não
ligar, tá feito um amigo.
Se ficar com medo, aí
ele abusa.
Mas como a maioria dos
amigos tem um certo receio, ele deita e rola.
Vem e, como quem não
quer nada, dá umas patadas e sai, vitorioso.
Outra estratégia é
ficar olhando firme para a visita. Um olhar bravo que já lhe rendeu o apelido
de Mike Tyson
Mas, comigo ele não
costuma tirar “farinha”. Claro, tenta exercitar seus dotes...mas, em geral,
acabamos brincando.
Hoje é um companheirão.
Me acompanha para onde vou, até no banheiro, na hora da ducha. Ele fica fora do
box, de vidro esfumaçado, querendo que eu passe a mão no vidro, por dentro do
box, pra ele tentar pegar. É sua brincadeira favorita. E reclama
quando estou com preguiça!
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