Neko

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Rahmet Redzepov - Emerald


Grace Kelly


Carlos Trujillo

Há poemas que pensam que são gatos
E ronronam sob o fogão em tardes de domingo
Enquanto a chuva se desliza pela janela
E as cortinas repletas de figuras detêm a paisagem cinzenta
Como uma fotografia pintada na parede
Em dias de um calendário que já ninguém se lembra
Poemas que parecem esquecer-se do mundo
Quando são vistos adormecidos ao lado do fogo
Enquanto a robusta cozinheira
Recolhe uns pães grandes e deliciosos
Doces como frutas frescas
Da boca de um forno recém criado por Deus.

Há poemas que pensam que são gatos enormes e graciosos
Enquanto se esparramam pelas paredes
E se deslizam sobre os telhados
Curvados e tensos
Como se a presa que perseguem fosse a vida
E essa fosse a única oportunidade de apreendê-la

Há poemas que pensam que são gatos
E vão pela vida com sua aparência de gato
Com seu rabo de gato
Com seu reluzente pelo de gato
E seus prodigiosos olhos de gato sábio
Olhando o profundo e a superfície das coisas
Como se para eles o mistério
Ainda fosse uma ideia sem nome

Também há gatos que pensam que são poemas.

Tradução de Cristiane Grando



Miudezas


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

John White Alexander


Filatelia


Walt Disney collections

Manuel de Freitas

Pela manhã o gato estende-se
vagaroso nesse impreciso lugar
em que luz e sombra
se entretecem. Nas pedras
rondantes do que sempre chamámos
a nossa casa, esse sonho
de irmos por detrás das janelas
encarcerados nas agrestes
paredes do amor.

Todas as manhãs, enquanto
a escola me espera, o
gato é tão certo como os passos
que dele se desviam. Um mero
olhar, a melancolia
de depois te dizer já sem o mesmo encanto
a sua negra quietude, o silêncio
em que se move.

Estamos todos, eu tu e o gato,
neste estranho sossego
de a morte ser um dia destes
entre luz e sombra.


Tipografia


Fashion


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Natalya Trubina


Pelo Mundo

Village de Oia, Santorin, Greece

O Gato Por Dentro - William S. Burroughs (1914-1997)

(…)
“Ronronando enquanto dorme, Fletch estica as patinhas pretas para tocar minhas mãos, as garras encolhidas, um toque bem suave para assegurá-lo de que estou ali ao seu lado enquanto ele dorme. Ele provavelmente me vê no sonho. Dizem que os gatos não distinguem as cores: um preto-e-branco granulado, um filme de prata tremeluzente cheio de falhas quando saio do quarto,volto, o apanho e o ponho na cama. Quem poderia ferir uma criatura como essa? Treinar seu cão para matá-lo! O ódio pelos gatos reflete um espírito feio, estúpido, grosseiro e intolerante. Não pode haver acordo com esse Espírito Feio.”

(…)
“Quando penso no início de minha adolescência, eu me recordo da sensação recorrente de aninhar e acariciar uma criatura contra meu peito. É bem pequena, mais ou menos do tamanho de um gato. Não é um bebê humano, nem um animal. Não exatamente. É parte humana e parte outra coisa. Lembro-me de uma ocasião em que isso aconteceu lá na casa da Prince Road. Eu devia ter doze ou treze anos. Eu me pergunto o que era… um esquilo?… não exatamente. Não consigo ver direito. Não sei de que ela precisa. Sei apenas que confia plenamente em mim. Muito mais tarde eu descobriria que fui escalado para o papel do Guardião, para criar e alimentar uma criatura que é parte gato, parte humana e parte algo ainda inimaginável, que pode resultar de uma união que não acontece há milhões de anos.”

(…)
“Nos últimos anos, tornei-me um dedicado amante de gatos, e agora reconheço a criatura claramente como um espírito felino, um Familiar. Sem dúvida compartilha coisas com o gato, e também com outros animais: raposas voadoras, lêmures ai-ais, lêmures-voadores com olhos amarelos enormes que vivem em árvores e são indefesos no chão, lêmures de cauda anelada e os pequeninos lêmures microcebos, martas, guaxinins, minks, lontras, gambás e raposas da areia.”
 
(…)
“Indícios apontam que os gatos foram  domesticados pela primeira vez no Egito. Os egípicios armazenavam grãos, que atraíam roedores, que atraíam gatos. (Não há prova de que isso tenha acontecido com os maias, apesar de haver um grande número de gatos selvagens nativos na área.) Não acho que isso seja exato. Sem dúvida não é a história toda. Gatos não começaram como caçadores de ratos. Doninhas, cobras e cães são mais eficientes como agentes de controle de roedores. Eu postulo que os gatos começaram como companheiros psíquicos, como Familiares, e nunca se afastaram dessa função.”

(…)
“O gato não oferece serviços. Ele se oferece. Claro que ele quer carinho e abrigo. O amor não é de graça. Como todas as criaturas puras, os gatos são pragmáticos.”

(…)
“Um dia, na Casa de Pedra, antes que qualquer dos gatos fosse morar lá dentro, eu estava dando uns tiros no celeiro quando olhei para o topo de uma pilha de madeira atrás do meu alvo e vi um gatinho branco. Guardei minha arma no coldre, fui até lá devagar, e então vi a mãe gata ali no alto da pilha de madeira, cercada por três filhotes. Ela se aproximou e esfregou a cabeça na minha mão.
- Estou vendo que o senhor é um homem bom, Xerife. Tome conta de mim e dos meus bebês.
A simplicidade do gesto foi muito emocionante. Milhares de anos de gatas naquele gesto, e os bebês atrás dela:
- Esta é a minha criação… o melhor que posso fazer…  o que tenho de fazer.”

(…)
“Todos vocês que amam gatos lembrem que os milhões de gatos que miam pelos quartos do mundo depositam toda sua esperança e confiança em vocês, da mesma maneira que a gatinha mãe da Casa da Pedra repousava a cabeça em minha mão, que Calico Jane botou os bebês em minha valise, que Fletch pulou nos braços de James e Ruski corria para mim arrepiado de alegria”.





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Gostosuras