Le Chat
Felino amarelo, gordo e sorridente, que se converteu em ícone político na França, chega a São Paulo
Por Cíntia Bertolino
Do alto de prédios, muros e chaminés, um gato flutua sobre Paris. Gordo, risonho e amarelo, espreita a metrópole, pronto para surpreender quem se atreve a olhar um pouco além do cenário consagrado pelos guias turísticos. Não é preciso ir muito longe ou desviar-se do trajeto para vê-lo: mais de uma centena de felinos, com asas ou sem asas, espalha-se dos bairros nobres às incendiárias periferias. Desde o mês passado, um deles também paira sobre São Paulo.
O bichano nasceu na cidade francesa de Orléans em 1997, quando o artista franco-suíço Thoma Vuille, o Monsieur Chat, deixou de fazer grafites para pintar com acrílico a rotunda figura pelas ruas. Rapidamente, o Gato se transformou num exemplo bem-acabado da chamada art coucou, que usa monumentos e outros cenários já existentes para roubar a atenção dos passantes, ao modo do cuco (coucou, em francês), ave que se apropria do ninho alheio.
Ainda na década de 1990, Vuille trocou Orléans pela capital do país, e o felino veio atrás. De uma hora para outra, lá estava ele a perturbar o cinza parisiense e a decretar o fim do reinado absoluto do sisudo Chat Noir, o gato preto dos postais, camisetas e outros suvenires. O que o novo personagem representava, ninguém sabia. Tampouco seu criador, que se nega a exibir o próprio rosto na mídia (prefere ocultá-lo sob a máscara do bichano). “As pessoas sempre precisam de explicações, mas o Gato é uma marca sem conteúdo. Podem lhe dar o significado que quiserem”, disse Vuille em rápida visita a São Paulo, a convite do consulado francês e da mostra I/Legítimo, encerrada em janeiro sob curadoria de Fernando Oliva e Priscila Arantes.
Na França, o personagem se converteu de ícone pop em ativista político, uma espécie de Chat Guevara. Virou estandarte em manifestações contrárias à Guerra do Iraque e à passagem do ultradireitista Jean-Marie Le Pen ao segundo turno das eleições presidenciais de 2002. Dois anos depois, o felino engajado inspirou o documentário The Case of the Grinning Cat (algo como O Caso do Gato Sorridente), do cineasta Chris Marker. A partir de então, ficou internacionalmente conhecido e conquistou outras cidades do mundo. Em São Paulo, aparece no alto de uma parede na rua Cardeal Arcoverde, esquina com a João Moura, no bairro de Pinheiros. É o primeiro e único do Brasil.
Numa noite quente de janeiro, enquanto terminava de pintá-lo, tinta ainda fresca, Vuille foi abordado por um grupo de policiais, com armas em punho. Demorou, mas conseguiu explicar o que fazia. “Os pintores de rua brasileiros são realmente corajosos…”, concluiu, após se recuperar do susto.
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Thoma Vuille e seu personagem, pintado numa parede do bairro paulistano
de Pinheiros. O artista se nega a exibir o rosto na mídia
Fonte: Veja
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