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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Grafite - Neusa Pereira

Quando o vi pela primeira vez, numa casa semi abandonada na zona oeste da cidade, disse pra mim mesma – é ele!
Irrequieto, assustado, morrendo de medo.
Era o gato mais bonito que eu já tinha visto. Um tico. Tão pequenininho que cabia na palma da mão. Veio comigo até o carro grudado nas minhas costas. Com as pequenas unhinhas firmes pra não cair.
No carro, dentro de uma caixa de papelão, me olhava assustado. Eu dirigia – um olho na  rua e outro no gato.
De repente, não sei como, o pirralho pula da caixinha e num piscar de olhos e entra – não se sabe como – atrás do porta-luvas.
Não consegui acreditar...e, catastrófica, já vi  a cena – ele entrando, entrando pelas entranhas do motor....mama mia!
Parei imediatamente  - era uma tarde de Domingo, cidade meio vazia, dia do aniversário de São Paulo – 25 de janeiro de 1999. E tenta daqui, tenta dali, nada de conseguir tirar o gato do pequeno espaço onde havia se enfiado. Quanto mais eu tentava, mais ele miava...
Paciência, pensei. Estando perto de casa, em alguns minutos eu o tiraria dali. Era certo também, que não daria tempo de acontecer a catástrofe que eu imaginava com o bichano no motor.
Foi na  garagem do prédio  a verdadeira luta. Quem disse que se conseguia tirá-lo de onde havia se metido? Com medo de machucá-lo, tentava devagar...         
Quando conseguia pegar uma patinha ele, rapidamente, puxava e berrava. Ai meu Deus do céu! Como iria tirar o Grafite dali. Ah, esqueci de dizer que, na hora que eu o encontrei já dei o nome – Grafite por causa da sua cor. Ele, apesar de SRD, sem raça definida, é todo cinza. Lindíssimo e, quando pequeno tinha os olhos azuis, cor que se mantém um pouco hoje dividindo a beleza com um verde clarinho. .
Aos poucos, a luta na garagem foi me cansando e o que é melhor – cansou a ele também que, num momento de descuido me deixou pegá-lo.
E só teve um jeito, puxa-lo mesmo morrendo de pena e ele miando pra dedéu.
Por esse cartão de visita já dava para perceber a ferinha que estava trazendo pra casa.
E foi só entrar no apartamento pro Grafite sair se escondendo e miando.
Claro, eu logo fui preparar um leitinho pra ele. Esqueci de dizer que, no caminho, havia parado numa farmácia e comprado aquela mamadeirinha pequenina para dar chá aos bebês;
Desse artefato, o Fite nem se deu conta. Começou a lamber o leite e, aos poucos, foi ficando com a barriguinha mais gordinha desse mundo.
Arrumei a caminha, um cestinho de vime, coloquei uns paninhos como colchãozinho e, lógico, a bendita bandeja de areia.
Que dificuldade nos primeiros dias. Fazer o novo hóspede entender onde era o banheiro dele.
No começo, a grande onda do Fite era fazer seu cocôzinho atrás da estante.
Eu vivia com pano molhado com sabão e pinho sol atrás dele.
Chegou até a fazer suas necessidades ao lado da minha cama. Mas nesse dia tava perdoado! Uma diarréia o impediu de chegar a qualquer lugar, quanto mais na bandeja...
Enfim, tanto foi feito que, finalmente, aleluia! Ele descobriu seu lugar de despejos sanitários. E não desaprendeu mais.
Gatinho maroto!
Hoje o Fite tem um ano e um mês. É um belo gato cinza, marrudo, metido a bravo! Gosta muito de correr atrás de mim pelo apartamento e atacar as pessoas que visitam a casa.
Não tem um “Cristo”  que chegue aqui que não experimente suas patadinhas.
Os mais corajosos já descobriram que essa é uma forma de apresentação dele. Se a pessoa não ligar, tá feito um amigo.
Se ficar com medo, aí ele abusa.
Mas como a maioria dos amigos tem um certo receio, ele deita e rola.
Vem e, como quem não quer nada, dá umas patadas e sai, vitorioso.
Outra estratégia é ficar olhando firme para a visita. Um olhar bravo que já lhe rendeu o apelido de Mike Tyson
Mas, comigo ele não costuma tirar “farinha”. Claro, tenta exercitar seus dotes...mas, em geral, acabamos brincando.
Hoje é um companheirão. Me acompanha para onde vou, até no banheiro, na hora da ducha. Ele fica fora do box, de vidro esfumaçado, querendo que eu passe a mão no vidro, por dentro do box,  pra ele tentar pegar. É sua brincadeira favorita. E reclama quando estou com preguiça!


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